Diante do texto que saiu hoje na FOLHA, um texto tão
estabanado e nonsense, tenho que publicar aqui uma pequena nota: Caro Salem,
fiquei um tanto decepcionado com seu texto...além de apelativo e
preconceituoso:
Primeiro: no texto somos levados a crer que um agente
penitenciário ou bilheteiro de trem tornar-se um diretor de cinema é um feito
incrível, como se agentes penitenciários e bilheteiros fossem imbecis e
diretores de cinema geniais.
Segundo, o texto fala de mim como se eu tivesse VIRADO
diretor de uma hora pra outra com o curta A FÁBRICA.
Explico: Antes de fazer A Fábrica realizei 6 curtas
metragens, todos exibidos em canais de tv e festivais de cinema, um telefilme
(exibido inúmeras vezes na TV Brasil e Cultura) e um longa metragem com direção
coletiva (que estava em cartaz até mês passado)...
e pro fim, acredite, bilheteiros de trem, agentes
penitenciários, garis, domésticas, etc. podem ser pessoas brilhantes, assim
como certos diretores de cinema podem ser medíocres....
VEJA ABAIXO
A MATÉRIA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO:
Diretor brasileiro premiado em Sundance já foi bilheteiro e
agente penitenciário
Aly Muritiba trabalhava de bilheteiro em uma estação de trem
em São Paulo quando uma equipe de filmagem chegou ao local para rodar uma cena.
Eles precisavam de um extra para "interpretar"... um bilheteiro.
Muritiba ganhou o papel e R$ 500.
Apesar de a ponta não ter entrado no corte final do longa
"De Passagem" (2003), de Ricardo Elias, o baiano da pequena Mairi
nunca esqueceu dessa experiência cinematográfica aos 18 anos.
Nem mesmo quando começou fazer faculdade de história. E nem
quando se mudou para Curitiba, onde trabalhou como agente penitenciário e mora
até hoje.
Aos 33, depois de cursar cinema no Paraná (e não se formar),
Muritiba virou diretor do curta "A Fábrica", que fez parte da lista
preliminar dos indicados ao Oscar 2013.
Não entrou na lista final da Academia. Mas o ex-bilheteiro
não se importou.
"Eu tenho tido tanto trabalho que não dá tempo pra esse
negócio de decepção. Decepção é meu Flamengo", brinca o novo cineasta.
Muritiba não tem do que reclamar. Na terça-feira passada, o
ex-bilheteiro ganhou o Global Filmmaking, no Festival de Sundance (EUA), criado
por Robert Redford.
O prêmio lhe renderá US$ 10 mil (R$ 20 mil) --além de um ano
de cursos e tutela do festival-- para completar o roteiro de seu primeiro
longa, "O Homem que Matou a Minha Amada Morta", um drama de vingança
que começa a ser filmado em outubro.
"É um grande passo ter meu trabalho reconhecido antes
mesmo de ser filmado. Sundance é o templo do cinema de invenção, que não segue
fórmulas e ousa", exalta o diretor e roteirista.
Aly Muritiba agora faz parte uma nova geração de cineastas
brasileiros com referências múltiplas.
Cita Michael Haneke ("Amor") e os belgas
Jean-Pierre e Luc Dardenne, de "O Garoto de Bicicleta" (2011), como
influência e admira a "coragem de Cláudio Assis", cineasta de "A
Febre do Rato".
"Estamos com uma produção instigante, feita por uma
galera jovem", diz Muritiba, já emplacando um discurso de diretor experiente:
"Temos os filmes 'soap opera' oferecidos pela Globo, mas eles são
necessários". (RODRIGO SALEM)