A anormalidade está nos olhos dos
outros. Isso é uma convicção para Claudio Vieira de Oliveira, de 37 anos, que
tem vasta experiência no assunto. O baiano de Monte Santo nasceu com uma
anomalia física que quase arruinou sua vida, mas garante nunca ter sofrido
preconceito ou discriminação. Um problema nas juntas, chamado artrogripose
congênita, deixou seus braços e pernas deformados e sua cabeça virada para trás
desde o nascimento, em 1976. Hoje, sua história de vida é a base para dar
palestras motivacionais - em outubro, ele irá para os Estados Unidos contá-la
em três cidades.
Seu primeiro desafio foi nascer.
A cidade no interior do Bahia não tinha hospital e sua mãe não havia feito
ultrassonografias durante a gravidez.
— Antes de eu nascer, ninguém
sabia que eu ia ficar assim dessa forma. Eu nasci de parto normal, não foi num
hospital, porque aqui não tinha. Foi com um médico, só que dentro de casa. Foi
muito difícil — conta Claudio.
Sua anomalia impressionou os
moradores de Monte Santo. Os médicos chegaram a aconselhar sua mãe, Maria José,
a deixar de alimentá-lo para que morresse. Ela, contudo, conseguiu dar cabo de
criar os seis filhos, sempre tratando Claudio da mesma forma que os demais.
— Eu já ouvi relatos de outras
pessoas com necessidades especiais que viviam ou vivem diferentes das demais.
Vivem num mundo fechado. A pessoa sente a discriminação, o preconceito. Eu fui
diferente. Desde cedo fui motivado por muitas pessoas da minha família,
principalmente minha mãe — lembra ele, que perdeu o pai com 1 ano de idade.
Educação
Claudio foi alfabetizado em casa,
com uma professora particular. Maria José temia que ele não conseguisse se
adaptar ao ambiente escolar. A iniciativa de começar a escrever pegando o lápis
com a boca foi dele.
— Foi espontâneo, veio de mim. Eu
deitei no chão com uma almofada, pus o lápis na boca e comecei a rabiscar
sozinho. Hoje, consigo escrever normalmente. Com a boca — explica Claudio.
Ele chegou a estudar alguns anos
em uma escola particular, pois sua mãe considerava a infraestrutura mais
adequada, mas, diante das dificuldades financeiras, ele teve que largar a
educação por um ano. Voltou a uma escola pública na 3ª série e ficou lá até
concluir o ensino médio. Claudio ainda fez um curso técnico antes de mudar para
Feira de Santana, onde cursou Contabilidade.
— Nessa época eu tive a ajuda de
muitas pessoas. Consegui uma bolsa integral (da faculdade), consegui ajuda para
o aluguel. Um vizinho foi me acompanhar e minha mãe me visitava a cada 15 dias
para limpar a casa e preparar comida. Foi um esforço muito grande, mas tudo
isso valeu a pena. Se fosse para fazer de novo, eu faria.
Acessibilidade
Claudio tenta tornar sua rotina o
mais normal possível, mas costuma esbarrar nas dificuldades de acessibilidade.
O baiano se deslocar para curtas distâncias de joelhos ou com um sapato
especial, que vai da extremidade do joelho à ponta do pé. Para ir mais longe,
ele precisa ser carregado por alguém.
— Eu já me acostumei. Às vezes, a
gente imagina: ‘Será que estou incomodando?’. Mas nunca vi ninguém reclamar.
Apesar disso, os anos vão passando e eu vou adquirindo peso. Com o passar do
tempo, as pessoas não vão ter condições de me locomover. Infelizmente, eu não
tenho transporte — lamenta.
Apesar das dificuldades, Claudio
passa a entrevista inteira sem se referir a si mesmo como “deficiente”.
— Para ser sincero, eu nem
percebo quem eu sou. Eu nunca percebi se eu sou uma pessoa portadora de
necessidades especiais, deficiente, sei lá. Muita gente me pergunta qual o
segredo para isso. Bom, para mim, o segredo é o próprio meio. Se o meio lhe
olhar assim (como deficiente), é assim que você se vê. Eu tenho muita
popularidade aqui na minha cidade, me comunico bem, nunca fico sozinho. Talvez
o segredo seja esse, a compreensão de cada um — explica.
A vida de Claudio fez sucesso na
imprensa internacional nesta segunda-feira. Portais como Daily Mirror, Daily
Mail e Metro publicaram sua história de superação. Extraglobo