Após dois meses seca, a nascente
histórica do Rio São Francisco brotou novamente. Segundo o diretor do Parque
Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, o fato foi oficializado
no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nesta
sexta-feira (28), mas ainda não se sabe o dia exato em que ocorreu o fenômeno.
Até o momento foram registrados mais de 370 milímetros de chuvas na região. “O
volume foi o suficiente para alimentar o lençol freático e brotar de novo a
água da nascente”, afirmou o diretor do parque.
Segundo o chefe substituto do
local, Vicente Faria, a natureza tem se recomposto com o período de chuvas que
teve início recentemente na região. As plantas, as flores e o mato verde a
perder de vista no chapadão da Canastra indicam uma nova fase. E quem viu de
perto a nascente chamada de "histórica" seca e tomada por fuligem
agora comemora o ressurgimento. “Sim, estamos muito felizes. Faltou chuva, mas
ela veio”, destacou o brigadista Paulo Moisés da Silva, que foi quem descobriu
a nascente seca, em setembro deste ano.
Ainda conforme Castanheira,
técnicos foram enviados ao local durante a semana passada para constatar o
ressurgimento da nascente já que outros "olhos d'água" pequenos que
também estavam secos voltaram a brotar água. "Foi então que confirmamos.
Já sabíamos que isso iria ocorrer, era questão de chuva e tem chovido de fato
dias seguidos na região", comentou.
Contudo, o registro da principal
nascente do Rio São Francisco cheia novamente ainda não pode ser feito pela
imprensa e visitantes, pois a intensidade das chuvas tem sido significativa e
provocou deslizamentos na estrada que dá acesso a uma das portarias do parque e
que leva até a nascente. Por isso está interditada e não é possível chegar até
o local. "Tentei subir de jipe hoje pela manhã para poder fazer fotos, mas
é completamente impossível. Há placas indicando a interdição e elas devem
permanecer até que seja possível chegar até o parque", disse o secretário
de Meio Ambiente André Picardi.
A seca da nascente
Foi durante um incêndio em
setembro, quando os brigadistas do parque tentavam impedir que o fogo atingisse
a nascente do rio, que Paulo Moisés da Silva sentiu que o trabalho foi em vão.
"Desci 500 metros com a bomba nas costas para colocá-la na nascente e
quando cheguei vi o que de fato ninguém esperava. Foi a pior surpresa daquele
dia. A nascente estava seca", lembrou.
Na ocasião, a seca foi tratada
como a pior já vista em todos os tempos. “Não há registros históricos de seca
dessa nascente. Essa estiagem simbolizou uma mudança climática rigorosa e
serviu de alerta para toda humanidade", afirmou o diretor do parque.
O São Francisco tem mais de 2.700
km e corta sete estados brasileiros - Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Goiás e Distrito Federal - o que dá a ele o título de maior rio
totalmente brasileiro, com uma bacia hidrográfica que abrange 504 municípios.
Na Serra da Canastra ele percorre
14 quilômetros até cair na cachoeira Casca Danta, onde inicia a jornada para o
Sul e em seguida muda o curso para o Nordeste do Brasil.
Impactos no turismo
Após as queimadas constantes e a
divulgação de que a nascente do Rio São Francisco havia secado houve queda no
turismo na região e, de acordo com a Associação de Turismo da Serra da Canastra
(Atusca), a baixa no número de visitantes chegou a 60%. Há sete meses, quase
toda a vegetação tinha sido consumida pela estiagem, mas nas últimas semanas o
cenário tem sido outro e o o turismo que havia sido comprometido agora está em
ritmo normal, segundo a diretora da associação Daniela Labônia.
