O saber vasto e variado que pode
culminar na erudição só é adquirido através do estudo diuturno, principalmente
por leituras, releituras, resiliência, análises e pesquisas exaustivas. É o que
fazem os eruditos, exegetas e pesquisadores. Não pode ser comprado ou obtido
por intermédio de artifícios ou expedientes escusos, mas atualmente qualquer
individuo que esteja disposto a desembolsar as quantias exigidas por algumas
instituições de ensino pode realizar o acalentado sono de obter um título
universitário. Se todos, ou pelo menos, a maioria dos estudantes egressos
dessas instituições conseguissem, efetivamente, agregar valores aos seus
conhecimentos seria algo excepcional.
A flexibilização de acesso aos cursos
superiores poderia representar um grande avanço, mas, na realidade, há outras
intenções ou interesses inconfessáveis por trás de tudo isso. É, sem sombra de
dúvida, a mercantilização do ensino em todos os níveis. Em outras palavras, a
educação tornou-se uma mercadoria como outra qualquer, e, como não poderia
deixar de ser, essas famigeradas instituições acabam seguindo a lógica do
mercado, que é a busca incessante pelo lucro fácil. Vale ressaltar que muitas
delas fazem parte de um grande negócio que movimenta boa parte da economia. Os
investimentos em educação superior ao longo dos últimos anos tem se mostrado
bastante rentáveis. É um filão que vem sendo explorado cada vez mais.
Considerados como clientes, os estudantes
dessas universidades acabam sendo beneficiados pelas próprias instituições que
sempre procuram meios de minimizar os índices de reprovação temendo que a
clientela possa optar por uma concorrente menos exigente. Como se vê, o cliente
precisa estar satisfeito. Via de regra, a responsabilidade pelo fracasso do
aluno é imputada ao professor, ou seja, o freguês tem sempre razão. Com efeito,
o saber produzido nos moldes do sistema capitalista pode ser vendido, trocado
ou consumido. Daí a crise do ensino público que resulta em grande parte dos
interesses dos empresários do setor que estão sempre impondo as regras nos
bastidores da política, e portanto, não tem interesse na melhoria do
ensino oferecido pela rede pública.
Por outro lado, a leniência, a falta de
critérios mais rígidos nos processos de avaliação aliados a uma série de outros
fatores tem contribuído para a formação de indivíduos que podem ser
considerados como autênticos analfabetos funcionais, uma vez que são incapazes
de assimilar e interpretar o significado de palavras ou expressões de textos
mais sofisticados.
Num mundo prenhe de mudanças constantes e
tendo em vista que a quantidade de informações e conhecimentos aumenta de
maneira incessante, um profissional pode ficar superado em pouco tempo, uma vez
que o mundo moderno exige uma série de competências além dos conhecimentos
específicos.
O antigo princípio que considerava o conceito de educação (entendida
como Bildung, "formação") segundo o qual o conhecimento não pode
estar dissociado do espírito e do próprio individuo cai por terra A educação
nos moldes atuais não resiste a esses pressupostos. Os conteúdos das
disciplinas são transmitidos de maneira superficial como mera informação sem
nenhuma preocupação com os aspectos conceituais afastando-se das cogitações
mais profundas.
A falta de leitura e o consequente
empobrecimento da linguagem dos estudantes são preocupantes. Os alunos, por sua
vez, buscam apenas o saber técnico necessário para competir no mercado. Não há
a preocupação de transformar o individuo num cidadão conscientizado e
politizado capaz de refletir sobre os problemas que afligem a sociedade na qual
está inserido. Causa espécie ouvir de pessoas que por dever de ofício deveriam
sempre estar em contato com a escrita e a leitura dizer, com todas as letras,
que não gostam de ler. Uma das premissas básicas do meu modo de pensar é que
quem não ler dificilmente vai aprender a pensar, que é o objetivo precípuo da
educação. É preciso ter em mente que a dialética de cada um depende de seu grau
de cultura.
Ao ingressar nos meios acadêmicos, o aluno
deve estar imbuído da idéia de que é uma oportunidade de abrir novos horizontes
e não um atalho para galgar uma oposição privilegiada na sociedade. Gandhi já
chamava a atenção para o fato de que os maiores males que padece a humanidade
são: riqueza sem trabalho, prazeres sem escrúpulos, conhecimento sem sabedoria,
comércio sem moral, política sem idealismo, religião sem sacrifício e crença
sem humanismo.
Em última análise, a educação que é
indubitavelmente um instrumento fundamental para a mudança de uma estrutura
opressora e excludente acaba se transformando numa ferramenta a serviço da
manutenção do status quo pelas elites.
Para este escriba, somente uma educação
voltada para a democratização da sociedade pode formar cidadãos críticos e
conscientes e não um rebanho de consumidores ávidos por produtos descartáveis
que proporcionam apenas prazeres efêmeros.
Do Mairi News