José
Antônio da Silva Barros
Do
grego palim (de novo) e psesto (raspar) palimpsesto é uma espécie de pergaminho
que depois de lavado e raspado era reutilizado para escrever outros textos, uma
vez que, na época era mais fácil e barato reutiliza-lo do que fabricar outro.
Muitos textos antigos que foram escritos utilizando esse processo ficaram registrados
e não foram totalmente removidos formando com o tempo várias camadas
superpostas, as quais ficaram invisíveis e hoje graça as modernas técnicas
radiográficas puderam ser recuperadas.
Na
quadra que temos a ventura de viver, a
internet pode ser comparada a um moderno palimpsesto, no qual não apenas as
palavras, mas também, sons, imagens e cores podem remeter igualmente remeter a
outras palavras e imagens. Com efeito, temos presenciado nos últimos anos uma
verdadeira revolução no campo da informação. Essas transformações provocaram
mudanças radicais na estrutura de todas as atividades humanas, tendo como
corolário modificações no comportamento dos indivíduos e da sociedade. É o que
se convencionou chamar de revolução digital dominada pelos computadores cuja
linguagem permite transforma-lo num recinto, no qual o virtual e o real se
confundem alterando sobremaneira a noção de tempo e espaço.
Com
o advento dos computadores, a tecnologia deixou de ser apenas uma extensão do
corpo humano, ou melhor, de um instrumento com o qual se executava um trabalho
para provocar uma verdadeira imbricação homem/máquina.
A
linguagem digital utilizada pelos computadores pode processar e levar dados
que superam todas as tecnologias anteriores, tornando-se um misto de todas
elas. Os escritos de outrora, em que estão narrados os fatos vividos,
assistidos e do qual participaram nossos ancestrais ainda podem ser lidos.
Estão gravados nos pergaminhos, nos monumentos, nos alfarrábios e até nas
inscrições rupestres como testemunho vivo da história. Como se vê, a
durabilidade da memória dos nossos antepassados estava garantida porque foram
registradas em objetos físicos. Por isso, atravessaram fronteiras, venceram o
tempo e chegaram até nós . No entanto, grande parte da memória atual, que é a
memória dos computadores onde estão armazenadas o acervo iconográfico, os registros históricos, os
eventos e todo o conhecimento produzido pela sociedade moderna não está fixada
fisicamente. Permanece invisível nos chips dos computadores, podendo, muitas
vezes, ser deletada deliberadamente ou por negligência como acontece amiúde.
Muitos textos como edições inteiras de jornais e livros já foram perdidas dessa
maneira.
Assim,
a vida com todas as suas inúmeras vicissitudes pode ser comparada, sem nenhum
exagero, a um palimpsesto, no qual as várias fases de nossas vidas vão formando
camadas indeléveis sobrepostas que se acumulam ao longo de nossa existência. Em
outras palavras, nossa vida está sempre
sendo escrita e reescrita diuturnamente e tal qual um palimpsesto é possível
ler o novo sobre o antigo e o antigo sobre o novo. É ali onde estão registradas
nossas frustrações, decepções, alegrias e tristezas. De resto, é uma forma de
deixar o legado de nossas experiências, nossas conquistas, nossas
idiossincrasias para a posteridade, e, assim, estabelecer o inevitável dialogo com o passado e com o futuro da nossa espécie.